quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Como cheguei ao prêmio Maria Aragão-Desenvolvimento Humano?

           Explico com a imagem.
           Meu irmão Paulo: viajou o país do sul ao Maranhão para me assistir tocando tambor vestida de urso aos 5 anos. Melhor incentivo para permanecer dançando.
           Meu filho Mateus: o sentimento materno é permeável, responde às profundezas do tempo. Melhor impossível para permanecer dançando.
           Meu sobrinho neto Paulo Felipe: crio, mas quem formata neste mundo digital? Quem nasceu dentro. Melhor companheiro de trabalho me faz permanecer dançando.
          Especialmente a dança-denúncia presente no Projeto Ilhadas.          
Paulo, eu, Mateus, Paulo Felipe

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Um ser generoso que ilumina mundos


   A generosidade abre caminho para a compaixão. 
                                     O grande poeta recebeu esta senhorinha em 1998, e fez os cordéis de "Bicho solto Buriti bravo", acolheu o trabalho, nos chamou de "grão de areia numa praia". 
       A foto aconteceu quando minha mãe foi homenageada na UFMA. Após as palavras dela o grande homem ficou mudo. Uma mulher de luta emudece um homem brilhante. Preces contínuas para que permaneça iluminando onde estiver. Gratidão bem amado amigo! 

sábado, 26 de novembro de 2016

Escrevo, por quê?


Depoimento para o Projeto Literatura Mútua- 16 de novembro- Galeria Trapiche, São Luís

      Qual é a primeira experiência de leitura que lembro?
Cena doméstica, meu pai era leitor assíduo, aquele que lê porque ama as narrativas, os dramas, as comédias. Minha mãe, educadora por alma e vocação, se obrigava a ler os vanguardistas e os clássicos. Morava no centro de São Luís em casa com uma estante enorme, móvel antigo instalado na sala, que me era próprio para escalar, desde pequena, para pegar os livros ditos proibidos para crianças, deixando de lado o indefectível Tesouro da Juventude ao alcance de todos.       

     Qual minha relação com os livros (objetos) e a leitura?
Enquanto objetos para serem consumidos eram prioritários no ambiente familiar. Pela disciplina materna tínhamos horários dedicados para leitura. O mais interessante eram minhas interpretações dos personagens. A boneca de Monteiro Lobato entrava pela cozinha, com copo de pinga, proseava com Visconde sentada na copa e se escondia no quintal com Saci. Mas eu misturava os personagens com outros, tudo vestida e maquiada como tal. Eduquei meu filho ainda de modo mais radical. Cultura e alimentação eram prioritários. Geram corpos saudáveis. Sem preço. Porém nada de consumo de superficialidades.   

Por que comecei a escrever/criar?

No colégio Santa Teresa tive uma mestra, madre Pinheiro se chamava. Era fera. As leituras eram feitas em voz alta e líamos de tudo. Além disso ela mantinha um regime de redações semanais. Ouvi uma fofoca de que ela morreu muito cedo. Certamente que não era deste mundo, de bolhas fora da matriz primária. Um detalhe importante: não gosto de diários.  Na dança contemporânea viraram moda, via os financiamentos divergentes do Itaú Cultural. Mas sou adepta das cartas até hoje. Falo por e-mail como se fossem cartas. 


Minha relação com o que escrevo/crio/enceno?

Pela afetividade, seguida por novas percepções. Mantenho canais abertos para o quê vou reconhecendo como importante naquele momento. Pois tudo é momentâneo. Vide nossa condição humana. Mas por ser uma artista do movimento o ato de sentar, e parar, por permanentes longos períodos me faz sofrer muito. Os textos giram em minha mente. Como se as palavras fossem agora os entes dançantes. Tanto que inventei lançamentos com performances simultâneas. Apelidei o novo livro de “dançante”.



     Quero ser lido/visto? Por quê?
Pelos mesmos motivos porque danço ou faço outros dançarem com pedagogias múltiplas. Passarem pelas experiências de modo que atravessem seus corpos. Que não se condicionem às leituras impostas, que sigam caminhos diferenciados, que não se amorteçam, não se solidifiquem. Daí sigo como uma educadora da constância, para vencer o medo da diferença. Quando comecei a estudar as dramaturgias que propunha reconheci as neurociências, e seus experimentos, como estudos importantes para minhas pretensões, e mantenho ainda hoje.



     
Talita Guimarães, idealizadora do projeto Literatura Mútua 
O que desejo aos que me leem/veem?

Posso me considerar afortunada pelos mestres que experimentaram junto comigo processos de construção artística, mas conciliando a experiência/mente e corpo/matéria. Processos materialistas, mas nunca reducionistas, dinâmicas cerebrais das quais emergem emoções e sentimentos. Por isso sou muito crítica com relação aos trabalhos que supõem dramaturgias que ditam posturas e atitudes sem serem esgotadas as possibilidades de buscas. Foram das neurociências que as dramaturgias de corporeidades buscaram caracteres necessariamente corporais para as experiências mentais (vide Varela, Damásio, Greiner, Hercoles, a escola de Angel Vianna, o sistema Rio Aberto de Maria Adela Palcos, a antropologia teatral de Eugenio Barba e Julia Varley).        

      Qual meu livro, personagem, trecho preferido de livro?

Milhares...os contos de fadas celtas, as mil e uma noites, Grimm, Andersen, mitologias, mitos e lendas brasileiras, Luis da Camara Cascudo e Silvio Romero, Monteiro Lobato. De meu pai herdei leituras em voz alta da Montanha Mágica, de Thomas Mann, e os novelistas brasileiros, incluindo Érico Veríssimo, Rubem Fonseca, Dalton Trevisan. Com minha mãe vieram Saramago, Euclides da Cunha, Machado, Jorge Amado, Frei Betto, Boff, Zweig. No teatro mergulhei nas tragédias, fascinada pelos signos femininos Ifigênia, Antígona, Electra, Medéia. Fui seguindo com Brecht, Boal, Barba, Burnier, chamo de ciclo “casa de João”, meu irmão que morava no Rio e me acolheu quando me mudei em busca de novas trilhas. Continuo descobrindo literatura brasileira em Ana Miranda, Isaías Pessotti, Contardo Calligaris. Na cabeceira a poeta que me ilumina Anna Akhmátova. Dela é meu réquiem, escrito em 1935. Ou o Bhagavad Ghita e os livros do Dalai Lama e do Chagdud Tulku cujos ensinamentos alimentam o cotidiano. Escondido está o Diário de Moscou, de Walter Benjamin que releio com prazer. Agora por conta da pesquisa da investigação que encerra a trilogia do sentimento feminino estou às voltas com a historiadora Natalie Zemon Davies, Nas Margens, comportamentos de mulheres do século XVII. Bem se vê que mesmo sendo uma artista do movimento devoro literaturas e livros.                       

domingo, 23 de outubro de 2016

Contentamento, a frágil felicidade!

     Encontro alguém: nossa?! Você não envelhece! Só não me sinto um ser estranho, diga-se de passagem...
     Momento atual, político, para reflexões.
     Os excluídos são os que não querem estar em alta no mercado...
     Espantar o medo de fracassar, de não dar conta, de envelhecer. Maduro é tomar posse do que já foi vivido pelo corpo...penso nele conectado a uma rede vital.
     A frágil felicidade pode ser cultivada pelos nossos movimentos compassivos, que fazem nossas articulações não endurecerem. Estou propondo prática para este mês para exercitar o contentamento, que alimenta matas e rios, ventos e mares, terras e sonhos.
       Para cultivar singularidades.
       #Fora padronizações (e os que usurpam poderes também!)

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Recuperação do intestino aprisionado

   
     Dançar, para mim, é estar em um lugar para entrar em contato com meus sentimentos através das percepções. Quando me vem na memória recente de temer o temeroso "Temer" tenho prisão de ventre, que não sei porque se chama assim pois quem fica aprisionado é o intestino.
    Bloco.
    Nada sai.
    Horror retido.
    Desbloqueado pela resposta do Museu de Alcântara. Respiração segue. Juju Carrapeta me faz rir.


quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Pensam que estamos ilhadas...mas não estamos!

  O Grupo Teatrodança conseguiu sobreviver por mais de três décadas em um mercado ainda emergente para as artes cênicas por acreditar que as desilusões, mudanças, demandas, entusiasmos e modas do tempo não abateram a coletividade artística maranhense pela força de suas investigações. A construção de dramaturgias do corpo, presentes nas cenas e nas pedagogias, como objeto de suas investigações explica a sobrevivência do coletivo artístico, configurando o erudito e o popular com a cultura que assume concepções complementares. 
  Falo do projeto intitulado Ilhadas, incluindo o espetáculo e a oficina, com as organicidades do teatro do corpo para falar da violência contra o sentimento feminino, seja nos seres humanos ou não, nas identidades ou nos territórios. Parto de notícias impressas sobre tráfico e exploração sexual de meninas, infelizmente atualizadas ou a cada nova apresentação ou a cada oficina que coordeno, o que inclui o público na função dramatúrgica como elemento de ampliação da consciência social.   
  Comecei a pensar nas emergências em indagar quais materiais constituem os corpos múltiplos, por onde passam imagens e estados, que se constroem com expressividade máxima, quando reconheci o Magdalena Project, a rede dinâmica multicultural que oferece fórum de discussão crítica em plataforma como ambiente virtual para o trabalho de mulheres em artes performáticas. 
    Ilhadas faz parte de uma trilogia que se propõe a descobrir uma linguagem com a qual exponho minha própria história e sistematizo ideias, teorias, técnicas e análises, como meio de preservar a memória e construir uma crítica com a cena coreográfica que envolva diretamente meu corpo, e os outros corpos, o que constituem as dramaturgias com corporeidades das expressões populares maranhenses. 
   A terra pode ser distante da pessoa ou ficar encorporada. A terra em que nasci ainda vive com os piores indicadores políticos, sociais, econômicos. A cidade de São Luís pode ser comparada ao sentimento feminino como uma cidade negligenciada, explorada e violentada. 
   O que dói mais é a inocência perdida quando se expulsa o sentimento da compaixão da presidência do meu país. Momento para o sentimento feminino contra a dor permanecer no corpo e permitir dar continuidade ao ato de viver. 
  Com razões concretas. Segue o link da recuperação do vídeo inicial, gravado por Giselle Brossard, no Manifesto dos 400 anos da cidade de São Luís, no Odeon Sabor e Arte. O projeto Ilhadas, espetáculo e oficina, segue suas trilhas por onde for aceito.
  Cabeceando no miolo do bumba-boi. Sem medo, meninas e mulheres do mundo! 
  E a trilogia seguirá porque estou, e estamos, prontas para a luta cotidiana!

domingo, 31 de julho de 2016

Gurdjieff e a antropologia indígena


                                            Em processo. 
     Começando em 2013 com esta nova investigação do Grupo Teatrodança vou mergulhando na experiência do corpo sensível. Gurdjieff, o pensador do quarto caminho, que exige a compreensão das calamidades dos extermínios. Estamos encarnando as angústias da antropologia indígena em permanente assassinato. 
     Junto conosco está o trabalho primoroso de Artur Andrés e Regina Amaral, do Instituto Gurdjieff de Belo Horizonte, que recriaram as pesquisas de Gurdjieff e De Hartmann para sonoridades de lugares inacessíveis. 
    Sem estreia prevista se seguem as práticas e os estudos.      

Eu e Victor Vieira, foto: Adriano Gonzaga 

Mandala: Centro Ozaka

Temáticas indígenas maranhenses

domingo, 19 de junho de 2016

Livro que se torna dançante...?

     Pois é, e ainda me faz ampliar a consciência por estar presente em Belém em locais tão importantes e saber que tenho uma formação histórica que transcende o que pensava ser amazônico.         Conhecer o trabalho minucioso da mestra Rosa Acevedo Marin sobre a descolonização, ainda em processo permanente, e reconhecer as manifestações das Guianas, para mim tão distantes e no entanto estão nas fronteiras vizinhas. Rompam-se.
    Valeu livro!
    E ter ministrado a oficina A pedra na água parte da investigação sobre as dramaturgias do corpo do Grupo Teatrodança que também me leva a muitos lugares...
    Vamos indo.
    Como digo: só no caminho, mas com excelentes parceiros caminhantes.
Foto: Rafael Borges
Intervenção SESC-Boulevard, Belém, 7 de junho 2016 
 

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Lucia Helena, meu nome é Júlia Emília

   Desenvolvendo projeto de pesquisa "Os intelectuais e as cadeias de papel" sobre literatura, ética e mercado esta pensadora, que se declara antes de tudo uma professora, me faz companhia para as memórias que esclarecem o ambiente em que estamos hoje.
   Em seus textos sobre as complexas relações entre a arte e a sociedade, seu livro "Modernismo brasileiro e vanguarda"expõe os dinamizadores das vanguardas históricas. Observei extasiada como a professora Lucia Helena falando das correntes primitivistas e suas posturas conservadoras se posiciona atualíssima para refletirmos a consciência do futuro levando junto os processos históricos do nosso país.      
   - Nesta retomada "patriótica", algumas vertentes reivindicam a tarefa de promover a "coesão do nacional". E esta, em nosso país, não só costuma ocultar as dissensões sociais profundas e a hegemonia de grupos conservadores em luta para permanecer no poder, como também habitualmente coincide com a valorização da mística do pulso forte, da ordem como forma de se promover e atingir o progresso. (grifos da autora)
           

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Honra por estar presente


                                                       
                   A XX Feira Pan-Amazônica do Livro consegue juntar escritores e pesquisadores latino-americanos em Belém para trocarem experiências de modo agradável e amigável.
               O máximo.
               Frágil felicidade mas tão verdadeira. Por terem me acolhido com generosidade. Honrada e alegre vou pegar a estrada levando "Vivendo Teatrodança", minha dança e a pedagogia que vem junto com o corpo, a cena e a literatura!

domingo, 10 de abril de 2016

A vitalidade dos que seguem as metodologias de Laban

     Como os pioneiros que se ocuparam da vida interior da qual brotam as ações Rudolf Laban pouco publicou suas pesquisas sobre as correlações entre as ações corporais e os componentes para conscientização corporal, que chamou de espaço, tempo, peso, fluência e esforço. Na época foram nascidos da inquietude de Laban pelo vazio das criações artísticas destituídas de resultados conscientes entre corpo e espírito. E foi assim que desenvolveu sua notação de movimento que considera um ser indivisível que se move com consciência no mundo.
     Depois de Laban são encontrados métodos que se ocuparam da re-educação somática para a dança, como as revoluções de Thomas Hanna, a antiginástica de Therese Bertherat, a eutonia de Gerda Alexander, a anatomia emocional de Stanley Keleman, as cadeias musculares e articulares de Godelieve Denys-Struyf e as que considero como as Mestras da ampliação da consciência do movimento corporal, Angel Vianna e Maria Adela Palcos.
     Em se tratando da cena teatral posso citar técnicas que se ocupam da presença completa do ator-dançarino, a exemplo de Jerzy Grotowski, Constantin Stanislávski, e a antropologia teatral do Odin Teatret, com Eugenio Barba e Julia Varley.
     Mesmo com as controvérsias despertadas sobre domínio do movimento com profundidade e extensão Irmgard Bartenieff, discípula de Laban, deu continuidade às metodologias da labanotation fortalecida pelo seu trabalho no Instituto Laban-Bartenieff, metodologias que permanecem em uso nas diversificadas áreas do conhecimento que objetivam um corpo que esteja em conexão consigo e com o ambiente em que se localiza.
    Portanto, recomendo o workshop da performing artist Simone Ferro, do Departamento de Dança da Universidade de Wisconsin, em Milwaukee, mas nem por isso distante de suas raízes brasileiras. Simone simplesmente me procurou, no comecinho dos anos 1990 apresentada pela pesquisadora Izaurina Nunes, para conversas e práticas sobre minhas investigações a partir das matrizes populares maranhenses, curiosa pela diversidade do que havia visto.
     Seguindo o mestre Laban o movimento segue seu curso vital quando nos traz amizades que energizam o nosso viver.
              

sexta-feira, 11 de março de 2016

Feira do livro Pan-amazônica

Olha só quem chegou! Dirão: mais uma feira?!
E chegou com diferenciais. Seu foco são os escritores dedicando lugar especial para a cultura regional, o que me move. E movimento é o propósito enquanto dançarina, atriz, diretora de um coletivo artística, educadora não formal em atividades criadoras, e por aí vai.
O fato de caminharmos eretos, de sabermos o que é alto ou baixo, esquerda, direita, enfim, de conhecermos a posição de nosso corpo no espaço demonstra que existem noções elementares comuns a todos nós, os seres humanos.
A dimensão ética surge quando o outro entra em cena. Esta frase molto bella não é minha e sim do pensador, filósofo e escritor Umberto Eco, que nos deixou faz bem pouco mas não será sua morte que impedirá que o ser nascido no Piemonte, responsável por uma produção incessante de discursos plurais, esteja fora de nossas vidas. Umberto Eco pensa que somente a educação constante desde a infância possa afastar o perigo da intolerância selvagem. Daí que muitas feiras que incentivam o livro e a leitura são necessárias para incrementar o sentido proprioceptivo da tolerância que será apreendida, sem dúvida, nas escolas.





Vamos lá! Na XX Feira Pan-Amazônica do Livro, no Ponto do Autor, estarei em conversa e lançamento, dia 05 de junho, às 17 horas.
Estaremos com corpo presente e levando conosco o Sr. Eco, aquele que em Cinco escritos morais reforça sua fé na educação.                      

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O menino que existe em todos os corações


     Sabem quem é? Ilo Krugli, meu Mestre de vidas e artes, que mais que ensinamentos me apontou trilhas para seguir, como fazem os educadores que propõem uma educação libertária que encaminhe para o bem comum, sem preconceitos nem estereótipos.
    Recebi ontem minha homenagem no teatro maranhense. O mérito do amor companheiro de Rogério Tarifa, ator e diretor da Cia. São Jorge de Variedades, que fortaleceu o trabalho com tonicidade ainda maior para expressões da nossa terra que enfrenta com coragem "jorgeana" a vidraça que separa o pão e a fome, que ilude os que pensam que o amor e a liberdade não caminham bem juntos.
    Que as espadas de São Jorge, que são parte da mata do Miritiua, sejam empunhadas pelo amor que cresce como o sol e a lua que iluminam nossas vidas teatrodançantes!!