terça-feira, 12 de novembro de 2019

Livro em seu terceiro encontro marcado


    Quitéria & Inês publicação aclamada por The Magdalena Project segue para seu terceiro lançamento, depois do teatro Arthur Azevedo, secular casa de espetáculos e atualmente enfatizando montagens farsantes e burlescas, e seguido pela 13ª Feira do Livro de São Luís, que necessita urgente de revisar seus modos de produção...
    O pensamento do corpo artista considera por onde ele está e os encontros que o constroem. O motivo para adotar um procedimento na investigação artística se deu por meio da experiência apresentada em trilogia com trabalho inicial “Meninilha”, em 2012, sobre os desaparecimentos de meninas fundamentados em arquivos da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH). Em seguida, veio “Ilhadas”, em 2014, uma provocação do dilaceramento social das meninas que somem, das mulheres que choram porque ficaram e como os meios para liberação comprometem o público na definição.            Sendo que sou uma artista do corpo e da cena são escolhidas performances que encarnem os ideais libertários do livro, quando o sentimento compassivo e amoroso se contrapõe à violência desmedida contra o sentimento feminino, atualidade vigente no continente sul americano.
    Há no livro, abrindo a cena de número quatro, uma citação de Sua Santidade o Dalai Lama que tão bem sintetiza as pretensões do livro Quitéria & Inês. Na obra The Path to Tranquility, estão os Oito poemas para treinar a mente, o Sopro que perpassa divinamente a matéria, a carne:
      Quando encontrar pessoas de má índole,
      Dominadas por atitudes violentas, negativas, e por sofrimentos,
     Serão as que prezarei como raras,
    Como se encontrasse um tesouro precioso.
     
    A escolha do arame farpado, materialidade da memória histórica da dor, tocou pessoas sem machucá-las, na cafeteria do teatro, em setembro. Na Feira do Livro, em outubro, foi encarnada a identidade, que sem condições de gênero ou raça, nos torna seres irmanados no coletivo da paz.
    Agora, em dezembro, na Associação Maranhense da Escrita Independente, propomos gestuais de solidariedade com a materialidade do papel, mudras compassivos, em círculo movente, com sonoridade das Canções do Divino Mestre, a louvação interpretada por Walter Franco, que partiu para outros bardos neste ano, mas artistas, imortais que somos, ele seguirá ofertando sua interpretação da Bhagavad Ghita.
    Lembram do filme ‘A festa de Babette’, dirigido pelo dinamarquês Gabriel Axel, em 1987? A arte é o alimento que nos liberta da nossa cegueira coletiva e nossa própria cegueira.  
    Quem ler este convite e tiver interesse pelo livro faça contato.
    Se o interesse for levar o lançamento para coletivos de mulheres faça contato que eu arrumo jeito de chegar lá. Livros lançados fora dos guetos literários...    

Primeiro lançamento 
 
Lindevania Martins, exuberante mediadora

Telma Lopes, artista das ilustrações 

Ana Maria José, pesquisadora  

  





     

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Afetuosamente apresento...

                                                          Esfarinhar o amor romântico.
                                             Em 1996. Título Mentiras e Humilhações.
    Aí estamos Eliane Cantanhede, eu, Moizés Nobre, Cristina Rodrigues.
    Sumimos nas nuvens. Muito raramente ainda encontro Moizés, um cordelista empenhado.
    Mas, não estávamos sós nesta temática sobre o amor. A poesia, que entra em devir, que deve se juntar ao mundo e misturar-se com a Natureza, estava conosco. 
    Vejam que poesia atuou junto: versos de Shakespeare, Dante, Takuboku, Auden, Baudelaire, Mário Cesariny, Gerô, Sandy Bianchini, Camões, Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Antônio Lobo, Roberto Carlos.
    Corpos e cenas traduzidos em ato.
    Ainda tivemos privilegiados diálogos com Luiz Pazzini, amizade mais que colorida.
                                                               
                                                                   NOW!
   Quitéria & Inês chega com lugares de indeterminação entre o humano e o animalesco. A criação artística embarca em forças que nos trabalham, enquanto artistas, sejamos nós humanas, animais ou plantas (estes extratos filosóficos pertencem ao Deleuze, que escreve como nosotras somos mostradoras de afetos, inventoras de afetos, somos praticantes da linguagem das sensações). Que escolhas fizemos.  Será que chegamos lá?      
    Leiam o livro.
    Está na Quintal Edições. 

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quarta-feira, 19 de junho de 2019

Salve a Tânia do Ói Nóis

Eu e Tatiane Soares, nas personagens 

O desencontro com Tânia nos permitiu ir reconhecendo coletivos que estavam trabalhando em conjunto com sua tutoria, imperiosa em períodos de bostas como o Alvim, surgido do nada. Persistir, ação continuada. O Dalai Lama fala que não há dúvida sobre a possibilidade de uma qualidade que está dentro de nós, que se chama prajna.  Podemos negar tudo exceto o fato de que temos a possibilidade de sermos melhores. O Teatrodança está fadado a desaparecer, eu mesma estou ficando velha e cansada. Mas estamos tendo nossa possibilidade de atuarmos com uma inteligente tutora-parceira-amiga-carinhosa-lutadora-guerreira. Que presente pleno de futuro!         

Tânia Farias, a memoriosa em 'Desmontagem'
Quem chamou Tânia de memoriosa foi Valmir Santos, jornalista e editor do site Teatrojornal. Porque ela valoriza a inquietude estética em paralelo ao pensamento crítico. Ao narrar alteridades a atuadora feminista tece cuidadosamente as gêneses, as durações, as chegadas. A contração total da carne acessaria a afetividade dos ossos. Tânia Farias com suas contundentes observações está acumulando ações talvez nem pensadas por ela, está nos exigindo transitar incansavelmente pelos pedaços de nossos corpos para que as atuações que ofertamos às cenas de Quitéria e Inês se comprometam com ações permeadas por loucuras de potências. Puxa Tânia, que as bruxas loucas transbordem em nossas almas. Puxa Tânia, que nosso sangue agitem os ossos. Não haverá cansaço, nem desistência. O mais incrível é viver para fazer outras nascerem como artistas. Eu e Tatiane, e milhares de outras mais, agradecemos sua possibilidade de existir.                

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Festival do Minuto


Em um minuto muito se apresenta... Tanto que decidi lhes apresentar a poeta Anna Akhmátova, que virou estrela em 1989, que ninguém conseguiu quebrar sua fibra e nem fazer com que fosse esquecida, lembre-se disso leitora amiga. 
Seu poema 'Terra Natal' caracteriza esta vinheta produzida para a abertura da Mostra Festival do Minuto, que será exibida na Associação Cultural Grupo Teatrodança, neste sábado, 8 de junho, às sete da noite. Como parte do convite estamos preparando beberagem fortificante para que possamos conversar calorosamente. Com o título 'o que é teatrodança?' exibimos nossa arte e vida. Como Anna intimista, permanecendo contundente, quando analisava os aspectos mais íntimos das atitudes num ângulo de visão totalmente gerado por um coração feminino. Sabemos que esta profundidade de sentimento nos dá um caráter universal eliminando fronteiras, ordens e normas da pequenez humana. 
Esta é nossa arte. 
    Este é nosso ofício.
Sintam trecho da poesia de Anna...

Terra Natal 

Não há no mundo seres tão sem lágrimas 
nem tão simples e orgulhosos quanto nós 
                                                        1922

Não a levamos no peito qual secreto escapulário
nem a cantamos em chorosos versos.
Nossos amargos sonhos ela não consegue perturbar
nem nos parece ser o paraíso prometido. 
Não a convertemos, bem no fundo da alma, 
em algo que se possa comprar ou vender.               

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Berro pelo avesso

    O livro Quitéria & Inês está em fase de produção pela Quintal Edições. Como foi feita a escolha? Pelo Mulherio das Letras, coletivo digital que propõe relacionar os sentimentos femininos que escrevem, e escrevemos bastante, vejam que este é o quinto livro que escrevinho, como Tia Júlia e o Escrevinhador, autoria de Mario Vargas Llosa.
    A ideia seria trabalhar todo o projeto do livro somente com mulheres. Aí, veio a mineira Quintal como mãos lambuzadas para apertar-se com a maranhense teatrodançante. O aperto está sendo bacana, já começamos revisões e diagramações.  
   Agora, caríssimas leitoras, produzir o livro e o espetáculo com um só prêmio (no caso o Edital Prêmio Literário da SECMA-2018, na categoria dramaturgia, intitulado Apolônia Pinto, hiper pioneira nas lutas pelas artes do corpo e da cena) se faz necessária diversificada consciência corporal que permita músculos e ossos flexíveis o suficiente para conseguir o milagre de transformar dinheiro pouco em larga sabedoria. Conseguiremos porque ninguém há de nos calar outra vez.
  É berrando que tenho conseguido que me escutem. Ou pensa que viver numa ilha é fácil? Ser mulher nordestina e não se submeter é fácil? Envelhecer com dignidade e se impondo aos falsetes é fácil? Só enlouquecendo é possível.
  Daqui para frente terei um novo amigo de cabeceira, Carl G. Jung, que irá me fazer sentar o rabo para entender sua simbologia, em suas funções de sonhos e imagens simbólicas, quando organiza o psíquico na relevância do corpo global, carne potente.
   Não sou quiromante contudo creio nas forças cósmicas.
   Fora do corpo_terra agentes de destruição das artes e ciências.  
   Que venham as forças.
   


Ensaio-Quitéria | Marcos Caldas 


 

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Quem é Inês?

                 Ela se chamava Inês Etienne Romeu.

Tatiane Soares, exercício, março 2019  


Eu e Tatiane, personagens título  
Trouxe as dolorosas similaridades dos encarceramentos do século XVIII com o regime ditatorial brasileiro, quando através dos trabalhos da Comissão da Verdade consegui chegar aos links com relatos dos atos violentos a que foram submetidas. Como arquétipo do período separei a única sobrevivente da Casa da Morte, centro de tortura clandestino da ditadura. Inês foi detida em São Paulo, sob a acusação de participar do sequestro do embaixador suíço Giovanni Bucher, ocorrido meses antes no Rio de Janeiro, capturada por uma equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury. 
Durante os 96 dias em que esteve presa, Inês foi torturada, humilhada e estuprada, com três tentativas de suicídio durante o cárcere. Só foi libertada quando fingiu concordar com dois de seus algozes para trabalhar como infiltrada para o Centro de Informações do Exército. Libertada, doente, foi jogada na casa de uma irmã, em Belo Horizonte, sendo levada pela família a um hospital, onde sua prisão foi oficializada. Condenada à prisão perpétua, ficou presa até 1979, quando tornou público todo seu martírio.
Nesta semana o livro passou pela criteriosa revisão da escritora e mediadora Talita Guimarães, que além do trabalho me presenteou com crítica sobre “Quitéria & Inês”, e compartilho com vocês, pois é fortalecedor para que novas dramaturgias surjam.   
                    
 ‘Parabéns pelo belo e forte trabalho, que exigiu muita coragem e disposição para ir fundo nas pesquisas e ser capaz de transformar em uma voz artística tão potente e necessária, que não só evoca a força de todas as mulheres massacradas ao longo da história, como as mantém presentes nessa luta diária por justiça e humanidade que temos travado. Tanto a pesquisa quanto o roteiro do espetáculo me comoveram muito pelo resgate histórico, que reflete o compromisso com a batalha contra o esquecimento e apagamento, trabalho que quando a arte executa tão bem como a que você produz, conversa exatamente com o nosso lugar sensível que aprende a transformar essas realidades.’

terça-feira, 19 de março de 2019

Quem é Quitéria?

     Vivenciar o teatro antropológico do Odin Teatret será sempre um desafio profundo que me obriga às reflexões profundas. Anterior à minha experiência inesquecível com Julia Varley e Eugenio Barba passei pelos sistemas propostos por Angel e Klauss Vianna e a Fondación Río Abierto, exigentes ao extremo para que sejamos corpos provocadores, super necessários nos períodos obscuros que estamos atravessando, que seguramente, será apenas um atravessamento. 
     A personagem Quitéria, arquétipo investigado e praticado pela carne que me constitui, traz a violência desmedida contra o feminino feminino, ambientada no século XVIII.
     Na pesquisa fui auxiliada pelas mentes abertas de historiadoras maranhenses, especialmente pela dedicação incansável de Maria da Glória Guimarães Correia. Glorinha, como é conhecida, me propiciou também um ensinamento para considerar nesta vida. Ao fazer contato com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul a chefe do departamento de história corrigiu meu pedido, para que me ajudassem com a pesquisa, indicando que procurasse aqui, na minha ilha predileta, a maior autoridade no assunto sobre mulheres trancafiadas de modo criminoso e forçado em nosso passado tristemente não reconhecido. Pobreza no pensamento que desconsidera que o melhor esteja em nossa aldeia, pedi desculpas pela ignorância, e retomei o contato com uma amiga de juventude artística. Torço para que estejamos juntas em novos processos.
     Quem estiver lendo informe-se sobre quem foi Quitéria, peça desculpas se não souber até agora quem é ela, e louve as produções maranhenses. Não se envergonhe em pedir desculpas.
Ensaio "Quitéria & Inês" (Marcos Caldas, 15/03/2019) 
  
                            

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

A luz da candeia


Espirais | EMEM 2005
Candeia acesa como conforto.
Retomada de antiga parceria.
Em períodos de degenerescência, quando atos malditos são impostos ao país e emanações terríveis se espalham, acontecem desgraças anunciadas e súbitas. Nesse turbilhão tenebroso chegou esta criatura, ela está aí na imagem de "Espirais', que apresentava em 2005 premonições sobre a realidade futura, agora presente.  
Práticas iniciais | Associação Cultural | foto Adriano Yasuhiro 

Tatiane, veio pé ante pé, mão sobre mão, para enfrentar a dor e o medo de “Quitéria & Inês”, arquétipos femininos encarnados em livro e espetáculo, mais um processo que cultua a dramaturgia da alteridade, dentro da proposta do Teatrodança de atingir um estado de real cooperação que acredita nas diferenças.

  

Júlia e Tatiane | texto encarnado


Assim, vamos compondo nossas criações, artistas que se misturam na mesma carne, e umas e outras são beneficiadas pelas trocas de seus saberes e fazeres. 
Mais seres virão por aí, já estão participando, mas, por enquanto, saudemos o sentimento feminino na Tatiane.
Ela traz a luz da candeia. 
Que fique acesa.