sábado, 4 de abril de 2020

Publicações_parte 1 Sagração Coureira




Sagração Coureira: em busca de uma antropologia cênica

                                                                        *Júlia Emília B. F. da Silva      
                                   Eu gosto de brincar.
                                   Eu brinco totalmente de vontade
                                  É vontade mesmo...
                      D. Elza, dança do caroço de Tutóia, Maranhão




  As experiências em dança acadêmica, no Maranhão, começaram no meado dos anos 1950, no formalismo da técnica clássica. Acompanharam o surgimento da dança moderna, que trouxe a ação do mundo para o espaço cênico, e da dança contemporânea que fez essa ação se tornar consciente.
  No decorrer desses anos de estudos e práticas surge concepção de que movimentos e gestos devem ser instrumentalizados em um contexto histórico-social. Concepção essa que levou à aproximação com as ações rituais das manifestações populares respaldada por autores como Florestan Fernandes, para quem o folclore compreende aspectos que são transmitidos informalmente e relacionados com fatores psicossociais e sócio-culturais do comportamento humano. Assim, as ações rituais são tratadas como fenômenos da cultura popular, de natureza religiosa ou não, que podem ser vistas como atos onde predominam aspectos simbólicos de seus produtores.     
  A ideia da elaboração de uma pesquisa que correlacionasse técnicas acadêmicas e expressões populares se iniciou em 1985, com a fundação do Grupo Teatrodança, atrelado ao Núcleo de Dança Oficina do Corpo, em São Luís, quando foi percebida a necessidade de documentar o processo de estudo sobre composição coreográfica. Mesmo sendo o Núcleo um investimento seguro nessa época, inclusive para financiar as experimentações, esse local foi fechado, e uma escola itinerante foi aberta pela necessidade de experimentar processos pedagógicos e cênicos que constituíssem etapas de um projeto de pesquisa em dança.
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*Diretora do Grupo Teatrodança. Especialista em Reabilitação Motora e Bolsista Vitae para intercâmbio. Formação diversificada com Angel e Klauss Vianna, Teatro Ventoforte, Piolin e Lume. teatrodancama@gmail.com  (98)9 9601 3968     
  Colocada no papel, a pesquisa foi apresentada no Congresso Internacional de Abordagens Corporais, em 1977, na Bahia. As etapas ficaram divididas em trabalho educativo e cênico, embora experimentadas de modo interligado em seu desenvolvimento.
 O trabalho educativo seria a elaboração de uma metodologia que correlacionasse os elementos cênicos pertencentes às danças populares- corpo, espaço, ritmo, plástica e tônus- com as técnicas corporais em consciência do movimento e dança contemporânea¹.
 Já o trabalho cênico seria a transformação para cena coreográfica dos mesmos elementos que foram selecionados nas expressões populares para a composição de um novo desenho e texto corporal trazendo a construção de uma terceira linguagem.  Para estabelecer como método essa correlação a pesquisa recebeu o apoio na área de música dos maestros Francisco Pinheiro e Alberto Pedrosa, e dos pesquisadores Erivaldo Gomes e Ana Neusa Araújo, também ocupados em manifestações populares e música erudita. A área de corpo foi afinada aos métodos libertários de Angel Vianna e da Fondación Río Abierto, para consciência do movimento, e a técnica Klauss Vianna para estruturação do movimento criativo em dança. Vale destacar que apesar da distância geográfica o Grupo Teatrodança permanece em contato com estas instituições, e seus seguidores, como parte da mesma geografia cultural.
  Essa opção fatal de reconhecer a estrutura psicofísica humana e aprofundar a questão da imagem corporal resultou de uma perspectiva histórica: o movimento dançado, que é para todos os povos, em todos os tempos, uma expressão viva da celebração, da participação e das relações sociais e espirituais. Isso levou ao conceito contemporâneo de que dançar é vivenciar e exprimir com o máximo de intensidade a relação do ser humano com a natureza, com a sociedade, com o futuro e com os deuses.
 Com essa proposta as composições coreográficas do Grupo Teatrodança tratam do corpo como um texto dotado de uma teatralidade especial, produzida pela mistura da heterogênea realidade social brasileira, partindo da crença de que em todas as formas artísticas sempre é trabalhada a capacidade de adaptação tônica. Quando o dançarino-ator recria uma matriz por meio de suas atitudes, seus movimentos e sua voz, o personagem torna-se produto do próprio tônus do intérprete. Como se trata de um processo investigativo encontrar uma forma de construção corporal não é exigência só artística, mas também pedagógica, e para isso é necessária forte disciplina, inclusive espiritual, para que seja realizada com criação própria.
 Na junção do popular e acadêmico partimos de noções como a enfatizada por Frei Betto em Uma Carta da Prisão:
 ... não existem homens mais cultos que outros, existem culturas paralelas e socialmente complementares.” (Frei Betto, 2001: 20)
 Com relação às manifestações populares maranhenses, com raízes genuínas ainda muito presentes, as teses de Hobsbawm e Ranger observam que o domínio do passado não implica imagem de imobilidade social.
   “A força e a adaptabilidade das tradições genuínas não deve ser confundida com a invenção das tradições. Não é necessário recuperar nem inventar tradições quando os velhos usos ainda se conservam. (...) Pode ser que muitas vezes se inventem tradições não porque os velhos costumes não estejam disponíveis nem sejam viáveis, mas porque deliberadamente não são usados, nem adaptados.” (Hobsbawm, 1984: 16)
 Em artigo sobre a experiência e o saber da experiência, o educador Jorge Larrosa Bondía apresenta a capacidade de transformação como componente fundamental na passagem pela existência no mundo:
      “Em qualquer caso, seja como território de passagem, seja como lugar de chegada ou como espaço do acontecer, o sujeito da experiência se define não por sua atividade, mas por sua passividade, por sua disponibilidade, por sua abertura.” (2002:19)        
  Nessa perspectiva dinâmica de cultura, a pesquisa de composição cênica, em dança contemporânea, trata de combinar a matéria estética da manifestação popular e a noção histórica de corpo com a busca visceral de uma concepção da dança, em sua pedagogia e cena. Não se trata de estudar as características das ações rituais, mas de vivenciar as correlações entre técnicas corporais ditas acadêmicas e as expressões das danças ditas populares. Em ambas, o corpo histórico contém as marcas do consciente e do inconsciente individual e coletivo, o que tem permitido investigar em artes tão diversificadas princípios comuns que constituem uma antropologia cênica.
  Como as duas forças, descritas por Klauss Vianna em sua técnica para geração do movimento humano:
   “Duas forças opostas geram um Conflito, que gera o Movimento. Este, ao surgir, se sustenta, reflete e projeta sua intenção para o exterior, no espaço. Desse equilíbrio de forças opostas e complementares nasce minha dança.” (Vianna, 1990: 78)
 Dentro da realidade própria do rito, o Grupo Teatrodança buscou a expressão que atravessaria o tempo até o batuque dançado contemporâneo, reafirmação dos valores culturais maranhenses.






                                          Cheguei, cheguei
                               Cheguei com a minha turma
                                           Cheguei...
                 Mestre Felipe, tambor de crioula União de São Benedito, São Luís

 Em montagens anteriores, como Coração Terreiro, Poema, Embarcações e Berlim-33, o Grupo já possuía como objetivos mergulhar nos conflitos das relações humanas e pesquisar questões da cultura brasileira. Mas, foi com o espetáculo Bicho Solto Buriti Bravo, contando com as parcerias do poeta Ferreira Gullar e do compositor Zeca Baleiro, estreia em 1998, no Museu de Folclore Édison Carneiro no Rio de Janeiro, que o método, em desenvolvimento pelo Grupo, conseguiu definir a trans-criação do universo das manifestações populares maranhenses, misturando literatura oral, drama, música e dança. As novas montagens do espetáculo com cada novo elenco, e as oficinas paralelas, no Rio de Janeiro e em São Luís, oportunizaram o fortalecimento da escola itinerante, enganadoramente anárquica, que tem possibilitado a ampliação dos espaços que exercitam a natureza dos personagens na cena dramática dançada.
  Curioso pela sensualidade que transpirava no tambor de crioula, o Grupo Teatrodança nasceu e amadureceu acompanhando os movimentos e toques dos brincantes, tanto na Ilha do Maranhão quanto no interior. Foram registrados os gestos irreverentes, como a punga ou umbigada, os movimentos lascivos, caracterizados com giros para trás, as marcações rítmicas dos ombros e quadris, as vibrações da cintura pélvica e escapular, e as rotações nos apoios dos pés no chão que conotaram a coureira, a dançarina de tambor de crioula, como dona de uma movimentação forte e vibrante que atinge a totalidade do seu corpo, pulsante com o batuque da parelha de tambores (meião, crivador e grande).
 Além do contato direto com os brincantes a participação em oficinas e cursos livres com outros pesquisadores de linguagens populares e/ou acadêmicas, possibilitou a descoberta dos similares étnicos do tambor de crioula, a exemplo do bumba-meu-boi de zabumba, o samba de roda e a capoeira de angola, todos praticados no Maranhão.
 Nessa época, 1996, surgiu a ideia do espetáculo Sagração Coureira.²
 A pesquisa de Sérgio Figueiredo Ferreti e a tese de Letícia Vidor de Sousa Reis, desde aí, se fizeram presentes nessa montagem porque estão relacionadas às origens comuns do tambor de crioula e da capoeira angola, descrevendo suas práticas e funções, e analisando seus significados sociais.                 
  Embora parecesse impossível era imprescindível para a montagem localizar um projeto já existente, e de abrangência social, onde o disciplinado exercício da capoeira acoplasse a consciência do movimento e contemplasse o tambor de crioula. Estava presente nas práticas do Projeto Criação, coordenado por Sérgio Costa, educador físico, pesquisador e capoeirista, na movimentação e no instrumental e canto da capoeira, e pelo inesquecível Mestre Felipe nos ensinamentos dos movimentos, cantoria e toques do tambor de crioula.
 Durante doze meses, os integrantes desse projeto e do Teatrodança passaram por oficinas de improvisação, expressão corporal e musical. Inicialmente descobriram as possibilidades de uma experiência, com sabor e sentimento, pertencente à área cênica e à uma dança popular. Em seguida dedicaram tempo para definição e formatação das descobertas.
 A proposta era analisar as matrizes dos movimentos corporais dos capoeiristas e coureiros³(as), procurando desvendar a lógica do movimento existente naquele grupo. Para isso, era necessário que eles descobrissem seus próprios significados a respeito da movimentação que faz parte da capoeira e do tambor, exercitando novas maneiras para que se extraíssem uma forma interior de movimento corporal. Os motes usados como estímulos para produção de sentimentos (e de artimanha em artimanha chegar até as emoções) foram Panha laranja no chão, tico-tico, para geração de imagens corporais relacionadas à capoeira, e Mulher derruba homem na areia, para o tambor de crioula, estrofes de cantos característicos e adequados para ampliar movimentos conscientes e encontrar novas corporeidades na cena.
  A etapa seguinte seria modelar a forma interior, e exterior, do movimento original até que tivessem uma definição bem clara, para que pudessem brincar com o que foi chamada de uma terceira linguagem, junção do acadêmico com o popular.
  Outra questão bastante complexa foi montar uma trilha sonora que complementaria a movimentação. A ideia de juntar a imolação proposta em A Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky, aos tambores populares pareceu perfeita nestes tempos contemporâneos:
        “É curiosíssimo constatar que em grande número das nossas danças dramáticas se dá a morte e ressurreição da entidade principal do bailado. (...) O complexo de morte e ressurreição não aparece nestas danças dramáticas oriundas de civilizações mais tecnicamente avançadas. É justo nos bailados das culturas primitivas, nos Congos de origem negra...” (Andrade, 1959: 26)                     
  O poeta Celso Borges e o arranjador Paulo Le Petit, parceiros do Grupo desde o Projeto XXI na virada do milênio, arriscaram mexer com as sonoridades ligadas à cultura popular e mixaram colagens ousadas que aproximaram os dois universos inserindo informações urbanas ligadas ao rock, ao techno e à música erudita.  A estrutura conceitual da cena coreográfica- nascimento, sacrifício, morte e ressurreição- era construída em São Luís e a trilha era composta em São Paulo, ao mesmo tempo.
 A movimentação que permeia Sagração Coureira são os trancamentos dos joelhos, as rasteiras pelos tornozelos e as derrubadas pelos quadris feitas pelos parceiros durante a brincadeira-espetáculo, tempo histórico do tema. Édison Carneiro fala da proveniência do antigo batuque de Angola e jogadas, de coxa contra coxa, o encontro de ventre com ventre, com o esforço concentrado em ficar de pé dos escravos. (Carneiro, 1937: 161)                                    Outras matrizes mantidas na composição cênica foram: as rodas para os desenhos no espaço, a compra do jogo na troca de parceiros, a sensualidade entre os intérpretes, a função religiosa com o uso da ladainha e a figura de São Benedito (padroeiro das duas rodas), e a presença dos tamboseiros e do canto na cena.

                               Se me chama de nêgo
                             Pensando que sou humilhado
                                 Está errado siô!
                              Porque aí que me sinto exaltado.
                Canto de louvação da roda de capoeira, São Luís 


  Sabe-se que um processo de criação dessa natureza exige que a noção de corpo se estruture na comunicação, na organização e no ritmo. Habituados com a movimentação corporal da capoeira, com a predominância da orientação para baixo, e com a do tambor de crioula, que estabelece um rigor bamboleante para a pélvis, os artistas envolvidos construíram, corajosamente, um novo olhar para a organização do diálogo corporal, parte integrante das ações rituais das rodas de tambor e capoeira, na perspectiva da pedagogia libertária: todos são incluídos na mesma obediência e importância, mesmo diante de limitações trazidas por precárias condições econômicas ou morfológicas.
 Pode-se tomar como exemplo a recriação do movimento da ginga4.
 Centrada nos quadris a ginga é marcada por uma oposição entre braços e pernas, sincronizados com movimentos para os lados, para frente e para trás. Semelhante ao demi plié do balé clássico (técnica acadêmica) que mantém as pernas levemente flexionadas buscando um equilíbrio dinâmico.
  Considerando a ginga como movimentação básica da ambivalente brincadeira da capoeira, o tema foi exercitado até encontrar um movimento original que agrupasse a consciência da cintura pélvica, relacionada com a cabeça e os pés, tanto no apoio no solo quanto no giro no ar, a pirouette acadêmica. Plenamente à vontade com os apoios e quedas no chão os intérpretes suaram para juntar essa habilidade e mais o exercício do ballon (saída e retorno suaves ao solo) realizando o tour.
 A ginga-pirueta, exaustivamente experimentada por todos com giro para dentro, movimento síntese do processo de construção da interpretação na cena coreográfica, finalizou o espetáculo Sagração Coureira, na primeira e na segunda versão.
 Outro processo semelhante foi experimentado para construção da sequência ilustrativa do tambor de crioula. As rodadas de saia, no tambor, têm como ponto de apoio o calcanhar, o meio ou as pontas dos pés. Esses giros em direção ao eixo central do corpo, com cortes para o lado contrário, em volta do próprio eixo ou em um espaço maior, foram relacionados com as piruetas. Além dessa relação, era objetivo na experimentação juntar o uso da ossatura pélvica em exercícios distintos: a punga, umbigada da coureira intimamente acoplada à batida do toque do tambor grande, que marca a pulsação central, e as ações corporais de fluência e controle conforme assinalado na análise de movimento do método de Rudolf Laban:
   “O esqueleto do corpo pode ser comparado a um sistema de alavancas que faz com que se alcancem no espaço as distâncias e se sigam as direções. (...) Os movimentos se processam durante algum tempo, e podem ser medidos com exatidão. A força propulsora do movimento é a energia desenvolvida por um processo de combustão no interior dos órgãos corporais.” (Laban, 1978: 49)
  Na técnica Klauss Vianna se observa enfoque similar: as linhas de força atravessam os ossos e a sensação de movimento está neles. Além da função orgânica, protetora e de apoio o esqueleto é uma estrutura para as necessidades funcionais decidirem a forma. (Vianna, 1990: 118)
 Ora, se a investigação de um esquema corporal remete à memória motora do grupo social participante de uma montagem em dança-teatro, exercitar o giro e a umbigada, a partir da cintura pélvica, trouxe consigo toda a dificuldade de ampliação do consciente, não através de experiências místicas, mas pelo exercício corporal preciso e contínuo. Superada a barreira inicial a dificuldade se transformou em fraseado cênico. Os atores-dançarinos do Grupo Teatrodança e os integrantes do Projeto Criação interpretaram essa leitura da cena da imolação. A movimentação exercitada foi acoplada, posteriormente, a uma colagem sonora do tambor de taboca, uma variante do instrumental para tambor de crioula, composta por Euclides Ferreira da Casa Fanti-Ashanti em São Luís, com fragmento de A Sagração da Primavera, trecho do sacrifício na trilha composta por Igor Stravinsky para o balé neoclássico.                 
 O fato é que conseguimos, pelo menos neste espetáculo-sagração, imolar a perda de nossa identidade para renascer, com graça na intimidade da brincadeira crioula maranhense.


                               Sagração Coureira foi apresentada em novembro de 2002, no pátio externo da Casa de Nhôzinho, em São Luís. Seguiu carreira e foi reapresentada, numa segunda etapa deste projeto de pesquisa, em novembro de 2004 no mesmo local.  

Notas:
1.     Os métodos de Angel Vianna e da Fondación Río Abierto tratam da reeducação do movimento que trabalham a relação de equilíbrio do indivíduo, integrando a percepção de si mesmo e de seu corpo, conectados com o mundo.
2.     Coureira ou coreira é como são chamadas as pessoas que dançam ou tocam no tambor de crioula. No título do espetáculo adjetiva sagração. Pela sonoridade e grafia foi escolhido o termo coureira.
3. Tambores visitados, em São Luís, indicando as comunidades e os produtores na época: Vila Ivar Saldanha- herança de Seu Lauro; Floresta- Apolônio Melônio; Coroadinho- Felipe; Fé em Deus- Terezinha Jansen; Liberdade- Leonardo; Madre Deus- Erivaldo e Lazico.
4.     Rodas visitadas no Maranhão: Laborarte- Patinho e Nelson; Acapus- Senzala; Matroá- Marco Aurélio; Criação- Sérgio. No Rio de Janeiro: Santo Cristo- Marujo; Catete e Largo do Machado- Mano e Braga; Lapa- Urubu; Santa Teresa- Neco; Niterói- Formiga.
Bibliografia
  1. ALEXANDER, Gerda. Eutonia, um caminho para a percepção corporal. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
  2. ANDRADE, Mário de. Danças Dramáticas do Brasil. São Paulo: Martins, 1959.  
  3. BÉZIERS, Marie-Madeleine e PIRET, Suzanne. A Coordenação Motora: aspecto mecânico da organização psicomotora do homem. São Paulo: Summus, 1992.
  4. BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, Nº19. Campinas: FUMEC, 2002.
  5. CARNEIRO, Édison. Negros bantus: notas de etnografia religiosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1937.
  6. ________. Cadernos de Folclore, Capoeira. MEC/FUNARTE, 1977.
  7. FERRETI, Sérgio Figueiredo. Tambor de Crioula: ritual e espetáculo. SECMA/Lithograf. São Luís: 1995.
  8. FERNANDES, Florestan. O Folclore em Questão. São Paulo: Hucitec, 1978.
  9. FREI BETTO. Uma Carta da Prisão. Revista Caros Amigos, Ano V, Nº59. São Paulo: Casa Amarela, 2001.
  10.  GARAUDY, Roger. Dançar a Vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
  11. HOBSBAWM, Eric e RANGER, Terence. A Invenção das Tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
  12. LABAN, Rudolf. Domínio do Movimento. São Paulo: Summus, 1978.
  13. REIS, Letícia Vidor de Sousa. O Mundo de Pernas para o Ar: A Capoeira no Brasil. São Paulo: Publisher, 1997.
  14. VIANNA, Klauss. A Dança. São Paulo: Siciliano, 1990.

Key words: antropological choreography; scenic pedagogy; dance; education; analisys.

Abstract
Analisys of an author trajectory in the dance area connecting the experiences that resulted in the Sagração Coureira, which had as objective the search of a scenic antropology based on Fernandes (1998), Laban (1978) and Vianna (1990). From a dynamic perspective of culture, the research on choreographic composition in contemporary dance tried to combine the asthetics subject matter of the popular manifestation and the historical notion of body with the visceral search of a new conception of dance, in its pedagogy and scene. 
Análise de uma trajetória da autora na área de dança cujas experiências resultaram em SC onde tem como objetivo da pesquisa a antropologia cênica baseada em diversos sistemas. Numa perspectiva dinâmica da cultura a pesquisa coreográfica em dança contemporânea busca combinar propostas estéticas das manifestações populares e a noção histórica de corpo com sentido visceral de uma nova concepção em dança, em sua cena e pedagogia.      

     






terça-feira, 12 de novembro de 2019

Livro em seu terceiro encontro marcado


    Quitéria & Inês publicação aclamada por The Magdalena Project segue para seu terceiro lançamento, depois do teatro Arthur Azevedo, secular casa de espetáculos e atualmente enfatizando montagens farsantes e burlescas, e seguido pela 13ª Feira do Livro de São Luís, que necessita urgente de revisar seus modos de produção...
    O pensamento do corpo artista considera por onde ele está e os encontros que o constroem. O motivo para adotar um procedimento na investigação artística se deu por meio da experiência apresentada em trilogia com trabalho inicial “Meninilha”, em 2012, sobre os desaparecimentos de meninas fundamentados em arquivos da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH). Em seguida, veio “Ilhadas”, em 2014, uma provocação do dilaceramento social das meninas que somem, das mulheres que choram porque ficaram e como os meios para liberação comprometem o público na definição.            Sendo que sou uma artista do corpo e da cena são escolhidas performances que encarnem os ideais libertários do livro, quando o sentimento compassivo e amoroso se contrapõe à violência desmedida contra o sentimento feminino, atualidade vigente no continente sul americano.
    Há no livro, abrindo a cena de número quatro, uma citação de Sua Santidade o Dalai Lama que tão bem sintetiza as pretensões do livro Quitéria & Inês. Na obra The Path to Tranquility, estão os Oito poemas para treinar a mente, o Sopro que perpassa divinamente a matéria, a carne:
      Quando encontrar pessoas de má índole,
      Dominadas por atitudes violentas, negativas, e por sofrimentos,
     Serão as que prezarei como raras,
    Como se encontrasse um tesouro precioso.
     
    A escolha do arame farpado, materialidade da memória histórica da dor, tocou pessoas sem machucá-las, na cafeteria do teatro, em setembro. Na Feira do Livro, em outubro, foi encarnada a identidade, que sem condições de gênero ou raça, nos torna seres irmanados no coletivo da paz.
    Agora, em dezembro, na Associação Maranhense da Escrita Independente, propomos gestuais de solidariedade com a materialidade do papel, mudras compassivos, em círculo movente, com sonoridade das Canções do Divino Mestre, a louvação interpretada por Walter Franco, que partiu para outros bardos neste ano, mas artistas, imortais que somos, ele seguirá ofertando sua interpretação da Bhagavad Ghita.
    Lembram do filme ‘A festa de Babette’, dirigido pelo dinamarquês Gabriel Axel, em 1987? A arte é o alimento que nos liberta da nossa cegueira coletiva e nossa própria cegueira.  
    Quem ler este convite e tiver interesse pelo livro faça contato.
    Se o interesse for levar o lançamento para coletivos de mulheres faça contato que eu arrumo jeito de chegar lá. Livros lançados fora dos guetos literários...    

Primeiro lançamento 
 
Lindevania Martins, exuberante mediadora

Telma Lopes, artista das ilustrações 

Ana Maria José, pesquisadora  

  





     

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Afetuosamente apresento...

                                                          Esfarinhar o amor romântico.
                                             Em 1996. Título Mentiras e Humilhações.
    Aí estamos Eliane Cantanhede, eu, Moizés Nobre, Cristina Rodrigues.
    Sumimos nas nuvens. Muito raramente ainda encontro Moizés, um cordelista empenhado.
    Mas, não estávamos sós nesta temática sobre o amor. A poesia, que entra em devir, que deve se juntar ao mundo e misturar-se com a Natureza, estava conosco. 
    Vejam que poesia atuou junto: versos de Shakespeare, Dante, Takuboku, Auden, Baudelaire, Mário Cesariny, Gerô, Sandy Bianchini, Camões, Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Antônio Lobo, Roberto Carlos.
    Corpos e cenas traduzidos em ato.
    Ainda tivemos privilegiados diálogos com Luiz Pazzini, amizade mais que colorida.
                                                               
                                                                   NOW!
   Quitéria & Inês chega com lugares de indeterminação entre o humano e o animalesco. A criação artística embarca em forças que nos trabalham, enquanto artistas, sejamos nós humanas, animais ou plantas (estes extratos filosóficos pertencem ao Deleuze, que escreve como nosotras somos mostradoras de afetos, inventoras de afetos, somos praticantes da linguagem das sensações). Que escolhas fizemos.  Será que chegamos lá?      
    Leiam o livro.
    Está na Quintal Edições. 

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quarta-feira, 19 de junho de 2019

Salve a Tânia do Ói Nóis

Eu e Tatiane Soares, nas personagens 

O desencontro com Tânia nos permitiu ir reconhecendo coletivos que estavam trabalhando em conjunto com sua tutoria, imperiosa em períodos de bostas como o Alvim, surgido do nada. Persistir, ação continuada. O Dalai Lama fala que não há dúvida sobre a possibilidade de uma qualidade que está dentro de nós, que se chama prajna.  Podemos negar tudo exceto o fato de que temos a possibilidade de sermos melhores. O Teatrodança está fadado a desaparecer, eu mesma estou ficando velha e cansada. Mas estamos tendo nossa possibilidade de atuarmos com uma inteligente tutora-parceira-amiga-carinhosa-lutadora-guerreira. Que presente pleno de futuro!         

Tânia Farias, a memoriosa em 'Desmontagem'
Quem chamou Tânia de memoriosa foi Valmir Santos, jornalista e editor do site Teatrojornal. Porque ela valoriza a inquietude estética em paralelo ao pensamento crítico. Ao narrar alteridades a atuadora feminista tece cuidadosamente as gêneses, as durações, as chegadas. A contração total da carne acessaria a afetividade dos ossos. Tânia Farias com suas contundentes observações está acumulando ações talvez nem pensadas por ela, está nos exigindo transitar incansavelmente pelos pedaços de nossos corpos para que as atuações que ofertamos às cenas de Quitéria e Inês se comprometam com ações permeadas por loucuras de potências. Puxa Tânia, que as bruxas loucas transbordem em nossas almas. Puxa Tânia, que nosso sangue agitem os ossos. Não haverá cansaço, nem desistência. O mais incrível é viver para fazer outras nascerem como artistas. Eu e Tatiane, e milhares de outras mais, agradecemos sua possibilidade de existir.                

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Festival do Minuto


Em um minuto muito se apresenta... Tanto que decidi lhes apresentar a poeta Anna Akhmátova, que virou estrela em 1989, que ninguém conseguiu quebrar sua fibra e nem fazer com que fosse esquecida, lembre-se disso leitora amiga. 
Seu poema 'Terra Natal' caracteriza esta vinheta produzida para a abertura da Mostra Festival do Minuto, que será exibida na Associação Cultural Grupo Teatrodança, neste sábado, 8 de junho, às sete da noite. Como parte do convite estamos preparando beberagem fortificante para que possamos conversar calorosamente. Com o título 'o que é teatrodança?' exibimos nossa arte e vida. Como Anna intimista, permanecendo contundente, quando analisava os aspectos mais íntimos das atitudes num ângulo de visão totalmente gerado por um coração feminino. Sabemos que esta profundidade de sentimento nos dá um caráter universal eliminando fronteiras, ordens e normas da pequenez humana. 
Esta é nossa arte. 
    Este é nosso ofício.
Sintam trecho da poesia de Anna...

Terra Natal 

Não há no mundo seres tão sem lágrimas 
nem tão simples e orgulhosos quanto nós 
                                                        1922

Não a levamos no peito qual secreto escapulário
nem a cantamos em chorosos versos.
Nossos amargos sonhos ela não consegue perturbar
nem nos parece ser o paraíso prometido. 
Não a convertemos, bem no fundo da alma, 
em algo que se possa comprar ou vender.               

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Berro pelo avesso

    O livro Quitéria & Inês está em fase de produção pela Quintal Edições. Como foi feita a escolha? Pelo Mulherio das Letras, coletivo digital que propõe relacionar os sentimentos femininos que escrevem, e escrevemos bastante, vejam que este é o quinto livro que escrevinho, como Tia Júlia e o Escrevinhador, autoria de Mario Vargas Llosa.
    A ideia seria trabalhar todo o projeto do livro somente com mulheres. Aí, veio a mineira Quintal como mãos lambuzadas para apertar-se com a maranhense teatrodançante. O aperto está sendo bacana, já começamos revisões e diagramações.  
   Agora, caríssimas leitoras, produzir o livro e o espetáculo com um só prêmio (no caso o Edital Prêmio Literário da SECMA-2018, na categoria dramaturgia, intitulado Apolônia Pinto, hiper pioneira nas lutas pelas artes do corpo e da cena) se faz necessária diversificada consciência corporal que permita músculos e ossos flexíveis o suficiente para conseguir o milagre de transformar dinheiro pouco em larga sabedoria. Conseguiremos porque ninguém há de nos calar outra vez.
  É berrando que tenho conseguido que me escutem. Ou pensa que viver numa ilha é fácil? Ser mulher nordestina e não se submeter é fácil? Envelhecer com dignidade e se impondo aos falsetes é fácil? Só enlouquecendo é possível.
  Daqui para frente terei um novo amigo de cabeceira, Carl G. Jung, que irá me fazer sentar o rabo para entender sua simbologia, em suas funções de sonhos e imagens simbólicas, quando organiza o psíquico na relevância do corpo global, carne potente.
   Não sou quiromante contudo creio nas forças cósmicas.
   Fora do corpo_terra agentes de destruição das artes e ciências.  
   Que venham as forças.
   


Ensaio-Quitéria | Marcos Caldas 


 

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Quem é Inês?

                 Ela se chamava Inês Etienne Romeu.

Tatiane Soares, exercício, março 2019  


Eu e Tatiane, personagens título  
Trouxe as dolorosas similaridades dos encarceramentos do século XVIII com o regime ditatorial brasileiro, quando através dos trabalhos da Comissão da Verdade consegui chegar aos links com relatos dos atos violentos a que foram submetidas. Como arquétipo do período separei a única sobrevivente da Casa da Morte, centro de tortura clandestino da ditadura. Inês foi detida em São Paulo, sob a acusação de participar do sequestro do embaixador suíço Giovanni Bucher, ocorrido meses antes no Rio de Janeiro, capturada por uma equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury. 
Durante os 96 dias em que esteve presa, Inês foi torturada, humilhada e estuprada, com três tentativas de suicídio durante o cárcere. Só foi libertada quando fingiu concordar com dois de seus algozes para trabalhar como infiltrada para o Centro de Informações do Exército. Libertada, doente, foi jogada na casa de uma irmã, em Belo Horizonte, sendo levada pela família a um hospital, onde sua prisão foi oficializada. Condenada à prisão perpétua, ficou presa até 1979, quando tornou público todo seu martírio.
Nesta semana o livro passou pela criteriosa revisão da escritora e mediadora Talita Guimarães, que além do trabalho me presenteou com crítica sobre “Quitéria & Inês”, e compartilho com vocês, pois é fortalecedor para que novas dramaturgias surjam.   
                    
 ‘Parabéns pelo belo e forte trabalho, que exigiu muita coragem e disposição para ir fundo nas pesquisas e ser capaz de transformar em uma voz artística tão potente e necessária, que não só evoca a força de todas as mulheres massacradas ao longo da história, como as mantém presentes nessa luta diária por justiça e humanidade que temos travado. Tanto a pesquisa quanto o roteiro do espetáculo me comoveram muito pelo resgate histórico, que reflete o compromisso com a batalha contra o esquecimento e apagamento, trabalho que quando a arte executa tão bem como a que você produz, conversa exatamente com o nosso lugar sensível que aprende a transformar essas realidades.’